sábado, 26 de novembro de 2011

DRAGÕES DE RIO PARDO TOMO II

(CAPA DO LIVRO "OS DRAGÕES DE RIO PARDO" DO TEN.CEL. DEOCLÉCIO DE PARANHOS ANTUNES)


DRAGÕES DE RIO PARDO

TOMO II







6 - A GUERRA de 1801 NO SUL E NO OESTE

A guerra de 1801 - Causas: O Rio Grande, de 1777 a 1801, atravessou um período de paz e grande desenvolvimento ao lado de um inconformismo generalizado de seu povo com o Tratado de Santo Ildefonso (1777), que reduziu expressivamente o território do Rio Grande delineado pelo Tratado de Madri (1750).

Nessa época, o Rio Grande do Sul já estava dividido pelo rio Camaquã, nas fronteiras do Rio Grande, sob jurisdição da vila do Rio Grande (quartel General da Comandância Militar) e na do Rio Pardo, sob jurisdição de Rio Pardo (sede do Regimento dos Dragões do Rio Grande) que a tradição consagrou como Dragões do Rio Pardo.

Neste ano, na Europa, Portugal e Espanha entraram novamente em guerra, que se estendeu ao Brasil, envolvendo o território do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso.

Essa guerra durou de 14 de julho a 17 de dezembro de 1801. Foi planejada e comandada pelo governador do Rio Grande de então, o Tenente-General Sebastião Veiga Cabral da Câmara, recolhido ao leito, onde morreu após comandar a fase mais crítica da guerra.

Destaques operacionais :As hostilidades tiveram início na Fronteira do Rio Grande; as guardas espanholas, ao sul do rio Piratini, fronteira de fato (municípios de Canguçu e Piratini atuais), e no rio Jaguarão, foram atacadas.

Na fronteira do Rio Pardo, os Dragões, ao comando do Coronel Patrício Correia Câmara, expulsaram os espanhóis da guarda de São Gabriel de Batovi e de Santa Tecla, que se recolheram ao forte de Cerro Largo (atual Mello). A Guarda São Sebastião, no passo do Rosário, retirou-se para São Borja, e Santa Tecla foi completamente arrasada.

A partir de Santa Maria (atual), Dragões e aventureiros, sob orientação da Fronteira do Rio Pardo, lançaram-se sobre a guarda espanhola de São Martinho e, dali, sobre os povos de São Miguel, Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga e São Nicolau, terminando por incorporar os Sete Povos por força das armas.

Seguiu-se a conquista do atual município de Santa Vitória do Palmar, a partir dos arroios Taim e Albardão, fronteira de fato. Conquista feita pelo Capitão de Milícias Simão Soares da Silva e pelo Tenente de Dragões José Antunes de Porciúncula, à frente de 100 milicianos e 36 Dragões do Rio Pardo. Eles atacaram, de surpresa, as guardas do Chuí e de São Miguel, que retraíram para o forte de Cerro Largo.

Em face desses ataques, os espanhóis reagiram a partir do forte Cerro Largo, ao comando do Marquês de Sobremonte, governador de Buenos Aires.

Um contingente da fronteira do Rio Grande chocou-se com outro espanhol lançado de Cerro Largo na direção do passo Nossa Senhora da Conceição do rio Jaguarão (atual Centurión), travando-se o combate do Passo das Perdizes, em 17 de outubro. Essa manobra espanhola foi diversionária, pois cobriu o lançamento de Cerro Largo, em socorro das Missões, do Tenente Coronel José Ignácio de La Quintana, com cerca de 600 homens. A Fronteira do Rio Pardo reagiu, enviando 300 Dragões do Rio Pardo, que conquistaram São Borja, após violento combate. Em seguida, esses mesmos Dragões acompanharam a coluna Quintana e ofereceram-lhe tenaz resistência em São Gabriel e Rosário do Sul (atuais), obrigando sua retirada para Cerro Largo.

Estimulados pelas vitórias das guardas do Chuí, São Miguel e Passo das Perdizes, na Fronteira do Rio Grande, e pelas de São Borja, Rosário do Sul e São Gabriel (atuais), o Comando Militar do Rio Grande decidiu conquistar a base de operações espanhola, o forte de Cerro Largo, aproveitando a ausência da Coluna Quintana.

Neste ínterim, o governador de Buenos Aires mobilizou recursos para socorrer o ameaçado forte de Cerro Largo.

Com a morte do governador Veiga Cabral, assumiu o Comando Militar e o Governo do Rio Grande o Brigadeiro Francisco Roscio.

Imediatamente, Roscio ordenou uma concentração de todas as forças do Rio Grande no passo Nossa Senhora da Conceição do Jaguarão, face à concentração espanhola no forte Cerro Largo. Sobremonte cerrou as forças em 30 de novembro. A concentração portuguesa ali foi reforçada, em 5 de dezembro, com 500 homens transferidos do Taim e Albardão, aprofundamentos das defesas do Chuí e São Miguel.

Neste mesmo dia, o comandante espanhol mandou um ultimatum ao heróico Coronel Manuel Marquês de Souza (comandante da Fronteira do Rio Grande), dando-lhe 24 horas para evacuar a região. Marquês de Souza respondeu-lhe negativamente.

A Fronteira do Rio Grande foi reforçada pela Fronteira do Rio Pardo, no dia 10, com a chegada do Coronel Patrício Correia Câmara, à frente de 400 Dragões, milicianos e voluntários.

Em 13 de dezembro, o Marquês de Sobremonte ordenou a retirada de suas tropas para o forte do Cerro Largo, consciente da superioridade portuguesa e do perigo que corria de ser batido em campo raso.

No dia 17, foi publicada no Rio Grande a paz entre a Espanha e Portugal. O Coronel Patrício retornou ao Rio Pardo em razão da suspeita, não confirmada, de que outra coluna Quintana fora lançada na direção dos Setes Povos para reconquistá-los. Em Porto Alegre, em condições de reforçar as tropas do Rio Grande, encontrava-se o Regimento Extemoz.

Esta guerra foi financiada por estancieiros e fazendeiros gaúchos que participaram da luta como voluntários e milicianos.

A guerra na fronteira de Mato Grosso: Em Mato Grosso, ao chegar notícia da guerra na Europa, o governador do Paraguai, comandando uma esquadra fluvial, atacou, em 16 de setembro de 1801, o Forte de Coimbra, que era comandado pelo Coronel Ricardo Franco de Almeida Serra.

O inimigo foi rechaçado. Em 1º de janeiro de 1801, o Tenente Francisco Rodrigues Prado, filho de São João del Rei e governador do forte de Miranda, tomou e arrasou o forte São Jorge na margem sul do rio Apa.

Os territórios conquistados no Rio Grande (Sete Povos), entre os rios Piratini e Jaguarão, o atual município de Santa Vitória e mais o sul do Mato Grosso, não foram devolvidos em razão de a Espanha não haver devolvido a cidade de Olivença que conquistara aos portugueses na guerra.

CANGUÇU, BASE DE GUERRILHA CONTRA OS ESPANHÓIS

Em 1762, na eminência de invasão do Rio Grande pelos espanhóis, como projeção de lutas na Europa entre Espanha e Portugal, o coronel Osório citado, proveniente do Rio Pardo e com destino ao Chuí, atravessou as terras de Canguçu com maior parte do Regimento de Dragões, fundando pouco após a fortaleza de Santa Tereza na atual ROU e, na época, território de Portugal pelo Tratado de Madrid de 1750(17).

Figura; Aspecto das ruínas da estância de Luís Marques de Souza, no rincão dos Cravos no Quarto subdistrito de Canguçu, próximo ao passo do Acampamento no rio Piratini. Foi a primeira estância em Canguçu. Ela serviu de base dos guerrilheiros de Rafael Pinto Bandeira e aos Dragões do Rio Pardo, para atuarem contra os espanhóis que denominavam a Vila de Rio Grande e a margem Leste do Canal São Gonsalo de 1763-1776. Serviu de apoio à Comissão Demarcadora de Limites 1748-88 e foi abrigo de Bento Gonsalves ao final da guerra Farroupilha. Nela teve lugar, set.1823, um combate de encontro entre as forças governistas e revolucionárias. O local era conhecido então como Atalaia e se prestou ao longo da História para tal. Julgamos seja a ruína mais antiga ligada à vida rural rio-grandense e à sua História Militar (Foto do arquivo da professora Marlene Barbosa Coelho).Aparecemos sobre as ruinas

*Elas foram por mim identificadas após visita ao local(15) e longa pesquisa decorrente, com apoio no mapa da demarcação do Tratado de Santo Ildefonso, cujo trecho público na obra O NEGRO NA SOCIEDADE DO RIO GRANDE DO SUL(16).

Após a invasão do Rio Grande, em 1763, pelo litoral, por paderoso exército espanhol ao comando do general Pedro Ceballos, governador de Buenos Aires, as terras de Canguçu foram em abril e maio de 1763 atravessadas, em viajem de ida e volta, de Rio Pardo até o canal São Gonçalo, por um contingente de 100 homens paulistas e dragões, comandados respectivamente pelo mais tarde heróico e bravo paulista, tenente Cypriano Cardoso Barros Leme e os dragões tenente João Nogueira Beja e o furriel José Carneiro Fontoura, ascendente entre outras, das ilustres famílias pelotenses Assunção e Simões Lopes(18). Eles tentaram em vão, socorrer ao Cel Thomaz Osório.

Canguçu passou a ser base de guerrilhas contra os espanhóis para hostilizá-los na então Vila de Rio Grande e ao longo do canal São Gonçalo. Comandadas pelo intrépido rio-grandense Rafael Pinto Bandeira serviam também para cobrir, à distância, o forte de Rio Pardo e as estâncias portuguesas entre o Camaquã e o Jacuí, contra um ataque partido da atual cidade de Rio Grande, então em poder de Espanha(20).Por ocasião da invasão espanhola de Rio Grande, muitos açorianos de Povo Novo da Torotama e imediações, entre a região atual de Rio Grande e Pelotas, se fixaram ao longo do caminho histórico Rio Grande –Rio Pardo passando por Canguçu.e buscaram proteção nas terras de Canguçu, ao longo do histórico caminho, estabelecido desde 1756, Rio Grande-Rio Pardo(21).

Em 29 de maio 1767, o coronel Marcelino de Figueiredo, partindo do Estreito, tentou com suas tropas, assaltar e retomar aos espanhóis a Vila do Rio Grande. Suas embarcações de assalto foram dispersadas no canal pela cerração e ventania. Frustado o assalto teve por consolação a reconquista da margem norte(atual São José do Norte). Nesta ocasião a estância de Luís Marques, em Canguçu, serviu de base inicial de guerrilha(22) a Rafael Pinto Bandeira, reforçado por Dragões do Rio Pardo, para atraírem, de Rio Grande para o corte do São Gonçalo, nas imediações de Pelotas atual, efetivos espanhóis, visando a enfraquecer aquela posição para o assalto frustrado intentado(23).

Em1974 o governador de Buenos Aires, general Vertiz y Salcedo, invadiu o Rio Grande do Sul pela campanha, com o objetivo principal de varrer das terras atuais de Canguçu(Encruzilhada do Duro) e Encruzilhada do Sul( guardas da Encruzilhada) as bases de guerrilhas portuguesas que tantos prejuízos vinham causando aos interesses dos súditos espanhóis. Erigiu o citado governador, natural do México, nas proximidades de Bagé atual, a Fortaleza de Santa Tecla. A missão de Vertiz y Salcedo foi prejudicado pelos reveses que Rafael Pinto Bandeira impôs às suas tropas em Santa Bárbara e Tabatingai(24).

*Cypriano Cardoso que deparo e abordo com frequência em meus estudos e trabalhos sobre a guerra de 1763-77 prestou serviços militares ao Rio Grande do Sul e a Santa Catarina(19) quase à altura dos prestados por Rafael Pinto Bandeira.

Incapaz de atacar Rio Pardo, a " Tranqueira Invicta ", o citado governador contramarchou em direção à base espanhola mais próxima – a Vila de Rio Grande – atravessando na ocasião as terras de Canguçu, ao longo do histórico caminho entre Rio Grande e Rio Pardo(25). Este mesmo trajeto seria feito em abril de 1776 pelo major Patrício Correia Câmara, o futuro Visconde de Pelotas, à frente de parte de seu Regimento de Dragões. Proveniente da conquista da Fortaleza de Santa Tecla, destinava-se a dar cobertura no Taim a um possível ataque à Vila de Rio Grande, reconquistada em 1 de abril, após 13 anos sob domínio espanhol. Dessa marcha deixou circunstanciado relatório que tornou possível indentificar os locais de Canguçu onde6 suas tropas acamparam, bem como o nome primitivo de Arroio das Pedras,da cidade de Canguçu. Em Pelotas, sobre a margem oriental do canal de São Gonçalo, ele encontrou um fortim espanhol abandonado(26).

Fonte : http://www.portugalweb.net/portugalnomundo/america/rgsul/cangu%C3%A7u.asp

Acesso : 23/11/2010